Adultos podem ter TDAH? Saiba a diferença entre os sintomas da infância e da idade adulta

Você sabia que muitas pessoas passam boa parte da vida sem saber que têm TDAH? O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ainda é amplamente associado à infância. Quando pensamos no transtorno, é comum imaginar crianças hiperativas na escola, cheias de energia e dificuldade para se concentrar. Essa é uma situação familiar para muitos pais e professores, mas há um detalhe importante: o TDAH não desaparece com o tempo. Ele cresce junto com a pessoa.

Se antes os sinais eram evidentes no pátio da escola ou durante as lições copiadas do quadro-negro, na vida adulta os sintomas podem parecer mais sutis. Ou melhor: eles mudam de forma. Isso faz com que muitas pessoas sequer desconfiem que aquela sensação constante de “mente embaralhada”, dificuldade em cumprir prazos ou administrar pequenas tarefas cotidianas possa estar relacionada a um transtorno documentado cientificamente.

Uma boa parte dos adultos diagnosticados hoje com TDAH não fazia ideia disso na infância. Alguns acreditavam ser apenas “distraídos”; outros cresceram ouvindo frases como “você é inteligente demais para ser tão desorganizado”. Com o tempo, caíram em ciclos frustrantes na vida pessoal e profissional, sentindo que algo estava desalinhado — mas sem saber exatamente o quê.

Conversas sobre TDAH em adultos ainda são recentes no grande público. Graças ao avanço da neurociência e da saúde mental, sabemos muito mais hoje, mas o tema já passou décadas envolto em equívocos e estigmas. Este artigo existe para explicar não só que adultos podem ter TDAH, mas também como os sintomas evoluem ao longo do tempo — muitas vezes passando despercebidos ou sendo confundidos com traços de personalidade.

O que é TDAH?


O básico sobre TDAH

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é uma condição neurodesenvolvimental, ou seja, está relacionada ao desenvolvimento do cérebro desde cedo na vida. Estudos apontam alterações no funcionamento de áreas ligadas à atenção, controle inibitório (capacidade de resistir a impulsos) e regulação emocional. Apesar de parecer algo abstrato, seus efeitos são bem concretos no dia a dia.

Pessoas com TDAH apresentam padrões comuns em três áreas principais:

  • Desatenção
  • Hiperatividade
  • Impulsividade

Esses traços dão nome ao transtorno, embora nem todos apresentem hiperatividade visível. Existem diferentes classificações dentro do TDAH, com perfis mais desatentos ou impulsivos. Mas é importante destacar: não é uma questão de falta de esforço ou preguiça. O TDAH tem raízes biológicas claras, reconhecidas pela medicina moderna, com diferenças no funcionamento dos sistemas dopaminérgico e outras redes cerebrais.

Entender isso nos leva à próxima questão…

Adultos podem ter TDAH?


Sim, adultos podem ter TDAH

Por muito tempo acreditou-se que o TDAH era restrito à infância, já que as pesquisas iniciais focavam essa faixa etária. Até mesmo os critérios diagnósticos foram criados com base no comportamento infantil observado em contextos escolares. No entanto, estudos mais recentes indicam que os sintomas podem persistir na vida adulta em até 60% dos casos diagnosticados na infância.

Além disso, muitas pessoas só entendem sua condição já adultas porque nenhum sinal foi identificado na infância. Isso ocorre porque os sintomas tendem a se transformar. Crianças com energia “de sobra” podem crescer para se tornarem adultos inquietos mentalmente, com dificuldade em manter o foco, procrastinação frequente e problemas para organizar tarefas simples.

Hoje, profissionais especializados conseguem identificar o TDAH em adultos por meio de entrevistas detalhadas e avaliações específicas. Isso ajuda a diferenciar os sinais do transtorno de comportamentos típicos causados pelas tensões do dia a dia.

Infância x idade adulta: por que os sintomas mudam?


Como os sintomas evoluem ao longo da vida

É lógico imaginar que as exigências da infância são diferentes das da vida adulta. Na infância, tudo gira em torno da escola: prestar atenção nas aulas, fazer lições e seguir regras. É nesse ambiente que sinais como esquecimento frequente ou imaturidade social costumam aparecer.

Na vida adulta, as dificuldades se combinam com responsabilidades como gerenciar trabalho, pagar contas e manter relacionamentos. Imagine lidar com tudo isso sentindo que sua mente é como um navegador de internet com 50 abas abertas ao mesmo tempo — nenhuma delas completamente carregada.

Impactos do TDAH na rotina adulta


Quando o TDAH complica a vida adulta

O TDAH pode afetar três áreas centrais na vida adulta:

  • Trabalho: Dificuldade em organizar tarefas, cumprir prazos e lidar com projetos grandes. Isso pode levar ao estresse constante e a comentários como “você precisa tentar mais”.
  • Relacionamentos: Amigos ou parceiros podem interpretar comportamentos como esquecimento ou desatenção como falta de interesse, gerando conflitos.
  • Saúde emocional: Sentimentos de culpa, ansiedade e baixa autoestima são comuns, especialmente após anos de críticas ou oportunidades perdidas.

Por que tantos adultos não foram diagnosticados antes?


O diagnóstico tardio

Se você se identificou com os sinais descritos, pode estar se perguntando: por que ninguém falou sobre isso quando eu era criança?

Até algumas décadas atrás, o TDAH era um tema marginal na medicina e na psicologia infantil. As pesquisas focavam principalmente meninos hiperativos, enquanto meninas desatentas ou crianças tímidas passavam despercebidas. Além disso, acreditava-se que os comportamentos ligados ao TDAH desapareciam com a idade adulta. Muitos adultos de hoje cresceram ouvindo frases como “isso é só falta de disciplina”, quando na verdade era um transtorno neurológico pedindo atenção.

O tratamento faz diferença?


Tratamento para TDAH em adultos

A boa notícia é que o diagnóstico tardio não significa falta de opções eficazes. Hoje, existem diversos tratamentos para minimizar os impactos do transtorno na rotina, adaptados à realidade de cada pessoa.

Os medicamentos ajudam no funcionamento dos mecanismos cerebrais, melhorando o foco e o controle dos impulsos. Já a terapia comportamental ensina técnicas para gerenciar o tempo, lidar com emoções intensas e criar sistemas organizacionais personalizados. Mudanças simples, como praticar exercícios físicos regularmente ou dividir grandes tarefas em etapas menores, também podem fazer toda a diferença.

Quando buscar ajuda?


A hora certa para agir

Se você se identificou com este artigo ou conhece alguém que pode estar passando por isso, talvez seja o momento de buscar ajuda profissional. O objetivo não é eliminar todos os desafios, mas oferecer ferramentas reais para transformar vidas.

Com terapia, medicação ou simplesmente entendendo que seus comportamentos têm nome e explicação, o primeiro passo para adultos com TDAH é o conhecimento. Saber que sua mente funciona de forma diferente não é motivo de vergonha — é uma oportunidade para viver melhor consigo mesmo.

Leia mais sobre TDAH:

Dra. Sara Koefender Castro
Médica de Família e Comunidade
CRM/RS 39979 RQE 32341

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